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Arquitetos: Roman Izquierdo Bouldstridge
- Área: 109 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Adrià Goula
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Fabricantes: Cosentino, Acor
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto consiste na conversão de uma casa de 1880 em dois lofts, localizado no bairro de Sant Antoni de Barcelona. Um novo ambiente doméstico é criado através de uma sucessão de cômodos que conectam a rua ao pátio através de um sistema de portas de correr e alpendres, reinterpretando a tradicional casa japonesa. A residência original era totalmente compartimentada com corredores e ambientes mal interligados entre si e com o exterior. A primeira intenção foi abrir o espaço e recuperar o teto em mosaico cerâmico, demolindo as divisórias e forros falsos existentes, aumentando a incidência de luz natural e promovendo a ventilação cruzada.
O projeto aproveita a estrutura existente da edificação, formada por uma sequência de paredes de sustentação e vigas de madeira, para criar uma linguagem simples e poética que gera um programa flexível. Todas as paredes foram modificadas para atingir a repetição de uma geometria ordenada que estabelece os limites entre os diferentes ambientes. Foram criadas novas aberturas com reforços estruturais e preenchidos os vãos que já não eram necessários. Este elemento é reconstruído duas vezes para atender aos requisitos funcionais das casas; portanto, a estrutura existente define o programa enquanto o programa define a estrutura modificada. Com esta intervenção surge um novo elemento de 23 metros que atravessa o espaço da rua ao pátio; dando origem a uma sucessão de soleiras relacionadas com o exterior que realçam a profundidade visual dos lofts.
Os limites entre os diferentes ambientes têm a mesma proporção de parede e vãos, criando a possibilidade de instalar portas de correr de madeira. Este sistema gera limites flexíveis e difusos que dão origem a uma composição dinâmica onde os ambientes podem estar relacionados, total ou parcialmente, entre si. Quando as portas são fechadas cada cômodo possui sua atmosfera específica, quando são abertas, cada um é parte de uma unidade. Atuando como filtros de luz e sombra, as portas expandem ou contraem o espaço, proporcionando privacidade aos usuários. Esses elementos conferem uma nova escala ao espaço, enfatizando sua dimensão vertical. Outro efeito visual que dá a sensação de estar em um espaço mais alto é o fato das aberturas terem a mesma proporção, mas dimensões maiores, que uma porta convencional
Os lofts são atendidos por uma estrutura inovadora e flexível com 23 metros de comprimento, composta por 41 degraus de madeira com 60 centímetros de distância. Os degraus da escada suportam as barras de aço e as tábuas de madeira lacadas a branco, que estabilizam as cargas horizontais do sistema e têm diferentes funções de acordo com a altura em que são colocadas. O programa da sala estabelece o uso deste sistema modular leve; nas salas de jantar serve de grande banco e biblioteca, nos quartos é um armário aberto, na lavandaria integra a máquina de lavar e secar roupa, na cozinha são utilizadas como prateleiras para depósito, integram a geladeira e atuam como balcão de cozinha e, por último, no hall de entrada dos lofts, o armário esconde os boilers e os painéis elétricos. Coerente com o conceito de ambientes com programas intercambiáveis, a possível modificação da posição das estantes permite atender às novas necessidades do usuário sem alterar o desenho inicial do sistema. Na verdade, essa flexibilidade abre a possibilidade de unificar os dois lofts em uma única casa.
O ritmo vertical das escadas ao longo de todo o espaço confere uma espessura à parede perimetral ao mesmo tempo que ilumina o seu interior. As paredes e tetos pintados de branco, juntamente com o límpido pavimento de microcimento contínuo, formam a envolvente de um cenário onde a luz e o tempo desenham as sombras sutis dos objetos. O espaço pode ser entendido como uma sucessão de caixas brancas perfuradas que conduzem a iluminação natural, dando a sensação de viver dentro de grandes lâmpadas que podem ser acesas ou apagadas por portas de correr. As plantas suspensas, em harmonia com a estrutura de madeira, dão origem a uma abstração dinâmica de troncos, ramos e folhas que conferem vida ao ambiente criado. Ao mesmo tempo, a presença de plantas melhora a qualidade do ar interno e regula a umidade. Matéria viva, morta e inerte se fundem em um novo ambiente doméstico onde diferentes graus de impermanência temporal são refletidos.